A obra de Santo agostinho é extremamente rica e nos permite vislumbrar as transformações profundas pelas quais o mundo romano estava passando no século V, dando origem ao período que viria a ser chamado de Idade Média. A conversão tardia, sua relação com o maniqueísmo, suas contribuições à interpretação da Bíblia e seu conceito de dualismo tiveram grande impacto no formato de cristianismo que iria se consolidar após a queda do Império. Além disso, discutiremos suas visões sobre a legislação, o direito natural e a justiça.
1. O Conceito Dualístico de Santo Agostinho
Santo Agostinho desempenhou um papel crucial na cristianização das ideias de Platão. Ele estabeleceu dois mundos distintos: o mundo ideal, que representava Deus, e o mundo terreno, transitório e habitado pelos homens. Agostinho acreditava que, no início, o homem desfrutava da justiça natural de Deus no paraíso. No entanto, o livre-arbítrio concedido ao homem levou ao pecado original, resultando na separação entre o homem e Deus. Isso criou um abismo entre o mundo terreno e o transcendental.
O desafio era como o homem poderia se reconectar com Deus. Agostinho argumentava que a fé, encontrada dentro de cada indivíduo e acessível por meio do livre-arbítrio, era a chave para essa reconexão. O livre-arbítrio, embora pudesse levar o homem ao pecado, também era a ferramenta pela qual ele poderia se reconectar com Deus. Através da fé, o homem poderia ter acesso ao mundo divino.
É importante destacar que Agostinho rejeitava o maniqueísmo, uma doutrina que reconhecia a existência tanto do bem quanto do mal como entidades independentes. Para Agostinho, só existia o bem absoluto, que era Deus. Os erros e a injustiça resultavam das ações humanas, mesmo que bem-intencionadas, devido ao livre-arbítrio.
2. A Legislação na Perspectiva de Santo Agostinho
Agostinho dividia as leis em duas categorias distintas:
a. Lei Eterna
A Lei Eterna representava o direito natural e estava inspirada no mundo ideal, proposto por Platão. O homem não tem acesso a essa lei devido ao pecado original. No entanto, Agostinho argumentava que o homem poderia alcançá-la por meio da fé, usando o livre-arbítrio para refletir sobre si mesmo, e com isso, alcançar o paraíso. Essa lei visava a paz eterna.
b. Lei Humana
As leis humanas eram criadas pelos próprios seres humanos para regular a convivência em sociedade. Santo Agostinho enfatizava que a fé deveria orientar essas leis, tornando-as minimamente justas. Ele acreditava que as leis humanas deveriam buscar a paz social.
3. O Direito Natural e a Justiça
Quanto ao Direito Natural na filosofia de Santo Agostinho, ele argumentava que esse direito residia no interior de cada indivíduo, devendo ser buscado em seu foro íntimo. Nos tempos atuais, essa ideia se assemelha ao conceito de moral, que é intrínseca à pessoa.
Finalmente, em relação ao conceito de justiça, Agostinho a via como a ação de dar a cada um o que lhe é devido. Isso refletia seu compromisso com a busca pela paz e harmonia, tanto no contexto divino quanto no humano.
Em resumo, as contribuições de Santo Agostinho para a filosofia do direito e sua visão do mundo dualístico tiveram um impacto significativo na história do pensamento jurídico e religioso. Suas ideias sobre fé, livre-arbítrio e justiça continuam a inspirar e desafiar pensadores até os dias de hoje.
Tópicos cobertos pelo vídeo:
00:12 Vida e Contexto Histórico de Santo Agostinho
02:04 Civitate dei – Cidade de Deus
05:37 Se Deus é bom, Por que existe o mal nesse mundo?
07:15 A influência de Platão na obra agostiniana
11:00 Como a obra agostiniana ajuda a formatar a Idade Média
12:45 O que é Direito, segundo Santo Agostinho?
18:15 Trailer do Filme ” Alexandria”
Questões que você deveria poder responder ao fim da aula:
- Quem foi Santo Agostinho e por que suas ideias são tão influentes?
- Como o conceito dualístico de Santo Agostinho impactou sua filosofia?
- Qual é a importância de Santo Agostinho para a Igreja Medieval?
- O que Santo Agostinho pensava sobre a lei e a justiça?
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