por Rodrigo Alves Correia – Doutor em Ciência Política
O “Breviário dos Políticos”, livro que eu indico, é um conjunto de aforismos e máximas do Cardeal Mazarin, um “manual” para a luta pelo poder através da arte do cinismo e da manipulação. Segundo o prefácio de Umberto Eco: “Mazarin nos dá uma esplêndida imagem de como obter poder pela pura manipulação do consenso. Como agradar, não só ao próprio patrão (preceito fundamental) e não só aos próprios amigos, mas também aos inimigos.”
Ele serve não apenas aos príncipes e políticos, mas também para o mundo dos negócios e a vida em sociedade. Mazarin expõe os truques usados por pessoas que controlam o poder aplicando estas máximas. Porém, ao contrário de Maquiavel, que faz algo parecido em O Príncipe, mas tem como propósito um objetivo louvável, o Breviário dos políticos é fundamentalmente um ensaio mau, em que o poder é um fim em si mesmo.
A estrutura do livro é baseada na experiência de uma vida, assim como o foram as máximas do Marquês de Maricá, e as Meditações do Imperados Marco Aurélio, mas é preciso deixar claro que ao ter sido publicado em Colônia, no ano de 1684 pela primeira vez, e pela natureza do seu conteúdo, é muito difícil que o autor seja mesmo o Cardeal Mazarin.
O livro provavelmente foi escrito e publicado postumamente por alguém que conhecia bem o Cardeal e a França, sendo um retrato bastante fiel de sua personalidade. Maquiavel escreve o príncipe na condição de proscrito. Mazarin era o Homem mais poderoso abaixo do Rei, na maior potência europeia. Seguindo os próprios conselhos contidos no livro, seria absurdo supor que ele correria o risco de se expor dessa maneira.
“Jamais confies a ninguém tuas inclinações íntimas, nem tuas repugnâncias, nem tuas timidezes.”
Seja como for, o Breviário dos Políticos é um livro surpreendente, que pode chocar as almas mais sensíveis pela franqueza impiedosa e ausência que qualquer senso de moralidade.
O Autor
Nascido em 1602 numa modesta família siciliana oriunda de Pescina, no reino de Nápoles, Giulio Mazzarino teve educação jesuítica em Roma. Estudou direito canônico em Alcalá de Henares, prestou serviço militar para o Papado em 1628, tornando-se logo diplomata papal. Foi vice-legado do Papa Urbano VII em Avinhão, e núncio extraordinário em Paris até ser convocado pelo cardeal Richelieu, seu grande mentor, para o serviço junto ao rei Luís XIII.
O prestígio conquistado junto a Richelieu e Luís XIII, rendeu-lhe a nacionalidade francesa e sua nomeação para cardeal em 1641, apesar de nunca ter sido ordenado padre. Após a morte de Richelieu e de Luís XIII em 1643, a regente da França, Ana de Áustria nomeia o agora Cardeal Jules Mazarin Primeiro Ministro.
Seu mandato esteve marcado pela necessidade de submeter a nobreza da França à autoridade da monarquia absolutista, já que a nobreza reagiu à centralização do poder real com uma série de rebeliões comumente chamadas de “A Fronda”
A Fronda foi debelada pelo Cardeal, mas as consequências para o reino foram catastróficas do ponto de vista material, social e político. Paris enfrentou uma sequência de saques e destruição, o que associado a sucessivas colheitas ruins, causou miséria e grave aumento da taxa de mortalidade da população. Em 1660, a população de Paris reduzia-se à metade.
Além de seu aspecto militar, o conflito se caracterizou como um grande confronto ideológico, com o fenômeno das Mazarinadas, panfletagens e caricaturas feitas contra Mazarin.
A convivência dentro das cortes era marcada pelas intrigas políticas, traições e manipulação, num contexto em que guerra, política e a vida sexual do Rei estavam misturadas. As Mazarinettes, como eram conhecidas suas sete sobrinhas, estiveram envolvidas em conspirações e tentativas de assassinato. Nessa arte, Mazarin era mestre.
Homem muito culto, Mazarin era um notável coletor de livros, joias e obras de arte, e deixou uma das maiores coleções de sua época.
Morreu a 9 de março de 1661, em Vincennes, tendo contribuído muito para a modernização e centralização do Estado e a ascensão da França à condição de potência europeia.
Vale a leitura! Veja após as capas, trechos interessantes do livro.
Algumas máximas contidas no livro – O Breviário dos Políticos
“Mantém sempre presente estes cinco preceitos: simula, dissimula, não confies em ninguém, fala bem de todo mundo e reflete antes de agir”.
“Age em relação a teus amigos como se eles devessem tornar-se um dia teus inimigos”.
“Quando um homem é atingido por um grande desgosto, aproveita essa ocasião para adulá-lo e consolá-lo. É com frequência em tais circunstâncias que ele deixará transparecer seus pensamentos mais secretos e que mais bem oculta”.
“Deixa a outros a glória da fama. Interessa-te apenas pela realidade do poder”.
“Guarda sempre forças em reserva, a fim de que ninguém possa conhecer os limites de teu poder”.
“Desconfia de um homem que faz promessas fáceis. É geralmente um mentiroso e um pérfido”.
“Das pessoas muito preocupadas com sua aparência, nada a temer”.
“Sempre que possível, evita fazer a menor promessa por escrito, sobretudo a uma mulher”.
“É preciso conhecer o mal para poder combatê-lo”.
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