Press "Enter" to skip to content

O Templo de Karnak

Colunas do Templo de Amon-Ra em Karnak - Egito
Colunas do Templo de Amon-Ra em Karnak – Egito

O Templo de Karnak dedicado a Amon-Ra é o maior templo e um dos cartões postais do Egito. Segundo local histórico mais visitado no país, atrás apenas das pirâmides de Gizé, o Templo de Amon disputa com Angkor Wat no Camboja o título de maior edifício religioso do mundo.

O nome original pelo qual os egípcios referiam-se ao templo de Karnak, era Nesut-Towi, “Trono das Duas Terras”, mas também há referências a Ipet-Iset, “O Melhor dos Lugares” além de Ipt-Swt, “Local Selecionado”, mais comumente referido como Ipet-sut.

A palavra Karnak deriva do arábico “Khurnak”, que significa “vila fortificada”. O templo tornou-se conhecido com esse nome por causa da região de Karnak, onde ele foi construído. Entretanto, durante seu período original de ocupação, a região próxima ao templo era conhecida como Ipet-sut (“o mais seleto de todos os lugares”). Ou seja, o nome recente do templo, foi dado apenas após as invasões árabes.

De onde vem o nome do templo de Karnak?

O significado do nome original deriva da antiga crença egípcia de que Tebas foi a primeira cidade, fundada pelos Deuses no monte primordial que surgiu das águas do caos no início do mundo. A origem do mundo teria sido ali, e os egípcios escolheram Karnak como local do templo por acreditarem que este seria o ponto exato da criação. Este seria um local de grande poder místico, e o ponto onde Amon poderia interagir diretamente com as pessoas.

Rio Nilo - Karnak - Egito
Pôr do Sol hipnotizante no Rio Nilo Foto: Camila Castanheira

O local esteve em processo de contínuo uso e desenvolvimento durante séculos, passando por gerações de faraós e reinados. O resultado é uma vasta obra que se expressa em vários estilos de templos, santuários e colunas que não encontra paralelo no Egito. Uma maravilha arquitetônica milenar, o complexo do templo ocupa um perímetro de 2.400 metros e está rodeado por uma muralha de adobe de 8 metros de espessura.

Qual era o propósito do Templo de Karnak?

Este templo foi criado em homenagem aos Deuses primitivos de Tebas, com destaque para Montu, e esteve ligado ao Templo de Luxor e o festival de Opet, ou seja, a celebração das primeiras cheias do Nilo.

Este grande complexo era o centro da fé egípcia durante o período tebano (quando a capital do Império era Tebas, atual Luxor), a imponência do local reflete sua importância religiosa e política. O lugar também serviu ao longo do tempo como centro administrativo e palácio para os faraós.

Heródoto mencionou que o templo de Amon-Ra era um “umbigo da terra” egípcio, a partir do qual pombas eram enviadas pelos sacerdotes para outros locais sagrados, como os oráculos gregos de Delfos e Dodona, ambos locais sagrados com curiosas conexões antigas com o Egito.

Quem construiu o Templo de Karnak?

Quem primeiro construiu um templo no local ainda é uma incógnita e sua antiguidade também ainda é debatida, embora ele presumivelmente tenha sido criado por volta da IV dinastia. Se for esse o caso, ele pode ser contemporâneo das grandes pirâmides de Gizé. Seja como for, a cidade de Tebas não parece ter sido importante antes da XI Dinastia. Sabe-se que Karnak permaneceu um santuário modesto até o Novo Império. Os templos anteriores foram relativamente pequenos e eram dedicados às divindades primitivas de Tebas, Mut a deusa da Terra e da fertilidade e Montu, o Deus falcão da guerra.

Planta do Templo de Amon-Ra em Karnak - Egito
Planta do Complexo do Templo de Amon-Ra em Karnak – Egito

Os primeiros edifícios foram destruídos durante invasões estrangeiras, e o artefato mais antigo conhecido encontrado na área do templo é uma pequena coluna de oito lados da XI Dinastia, mais especificamente do reinado de Wah-Ankh Intef II, faraó que governou entre 2118 a.C. e 2069 a.C. A coluna de arenito tem o nome de Amun-Ra e diz “ele (o rei) fez isso como seu monumento a esse deus …”, segundo a egiptóloga Heather Blyth. Isso “certamente deve implicar um templo, ou pelo menos um santuário dedicado a Amon em Karnak”, afirma a pesquisadora.

Grandes faraós do Novo Império como Hatshepsut, Tutmoses III, Seti I e Ramsés II empenharam-se em adições significativas para o complexo, e desse modo, o auge de sua importância pertence a esse período, mas o templo possui grande história pregressa e permaneceu um importante centro muito após os grandes faraós tebanos. O uso do templo, com algumas ampliações e adaptações continuou até o período macedônico, após a ocupação pelos romanos e sob os primeiros cristãos.

Teorias sobre a origem do Templo de Karnak

Baseando-se numa inscrição que contém nomes em ordem crescente de faraós, começando por Snefer (2613 a 2589 a.C), o primeiro faraó da IV Dinastia, há quem afirme que ele teria sido o iniciador das obras em Karnak. Arqueólogos que discordam desta tese, afirmam que a inscrição seria provavelmente apenas um registro de gerações anteriores de faraós. Uma outra possibilidade, embora igualmente sem suporte concreto em evidências, seria a de que o Templo de Karnak foi feito por Amenófis III (1391–1353 a.C) durante o Novo Império.

O vídeo a seguir, feito pela equipe de reconstrução da Universidade da Califórnia, em Los Angeles – UCLA Digital inicia seu modelo digital no reinado do rei Senwosret I (1971-1926 a.C.). Essa reconstrução é uma licenciosidade poética apenas baseada em evidências, visto que pouco do templo permanece hoje.

Elementos arquitetônicos do Complexo de Karnak

Segundo Enest Bloch:

“A pirâmide concentrava o céu em um ponto central, em um cume, que irradiava, de forma igual por todos os lados, imobilidade orgânica sobre a terra; o templo de Karnak mostra a mesma ordem imóvel no teto estrelado, nos muros e colunas descendentes, no solo, cuja decoração mostra o vale do Nilo Inundado… Na geometrização fanática de toda a arte egípcia se expressa sua utopia arquitetônica: cristal da morte como perfeição pressentida, reproduzido cosmoformicamente”

Em outras palavras, a forma do templo difere completamente das pirâmides de uma perspectiva geométrica, mas o significado simbólico era o mesmo. Acima de tudo, a arquitetura buscava uma representação da perfeição do cosmos.

Plano geral

Localizado na margem leste do rio Nilo, o Templo de Karnak está dividido em três complexos, que foram gradualmente construídos, demolidos e destinados a novos propósitos ao longo de mais de dois milênios. O principal deles é o grande templo de Amon, único disponível atualmente para visitação e segundo o site da agência Memphis Tours, que promove visitas ao local: “sua arquitetura única supera todos os outros lugares que você visitará no Egito”.

Os anexos em honra a Mut e Montu, encontram-se fechados e em pior estado de conservação. A leste, há uma quarta área, destruída intencionalmente na antiguidade – dedicada ao Aton, o disco solar. Obra de Amenhotep IV, mais conhecido pela história como Akenaton o faraó que ousou desafiar o poderoso culto de Amon-Ra e propôs o monoteísmo no Egito.

Artigo Relacionado  Júlio Cesar - William Shakespeare

Estima-se que aproximadamente trinta faraós contribuíram para a edificação do complexo, permitindo-o alcançar escala, sofisticação e diversidade incomparáveis. Nada na escala monumental de Karnak havia sido tentado desde que o rei da quarta dinastia Quéops (c. 2589-2566 aC) construiu sua Grande Pirâmide em Gizé.

esfinges com cabeça de carneiro - Templo de Amon-Ra em Karnak - Egito
Esfinges com cabeça de carneiro

Na entrada do templo, há 40 esfinges com cabeça de carneiro. O conjunto de estátuas fazia parte da Avenida das Esfinges, que ligava O complexo de Karnak e Templo de Luxor ao Rio Nilo.

O Grande Salão Hipostilo

Colunas do Templo de Amon-Ra em Karnak - Egito - Papiro Aberto
Pilar do Templo de Karnak – Papiro Aberto

Provavelmente, o elemento mais espetacular do templo é o Grande Salão Hipostilo, do grego “hypóstylos”, que significa “sustentado por colunas”, ou também, “diz-se de um compartimento cujo teto é sustentado por colunas”.

Ocupando uma área de mais de 5.000 m², o Hipostilo contém 134 colunas, sendo que as 12 centrais são mais largas e elevavam o teto, que desabou séculos atrás, a cerca de 23 metros de altura. Segundo a egiptóloga Heather Blyth, “Os postes e as grandes paredes do recinto foram pintados de branco com os relevos e inscrições escolhidos em cores brilhantes como joias, aumentando sua magnificência”.

Iniciado por Seti I e concluído por Ramsés II, (1290 a 1279 aC), ele possui uma área maior que a Catedral de Notre Dame de Paris. As paredes externas contêm ilustrações de Seti e seu sucessor, Ramsés atacando inimigos a Oeste do Egito e na região do Levante. O salão provavelmente era o local das cerimônias de coroação dos novos faraós.

Pilares do Templo de Karnak

Uma colunata servia como porta de entrada, usualmente decorados com cenas bastante coloridas que retratavam o governante que os construiu. Elas possuem, de acordo com o que podemos ver nas imagens anterior e a seguir, capitel em formato conhecido como papiro aberto ou fechado. Os pilares têm início próximo ao santuário principal e seguem em duas direções: Um conjunto incluindo seis deles segue para oeste, em direção ao rio Nilo e termina em um ponto alinhado com uma avenida de esfinges. O segundo conjunto de pilares inclui quatro deles e está voltado para o sul, ao longo de uma via cerimonial.

Colunas do Templo de Amon-Ra em Karnak - Egito - Papiro Fechado
Pilar do Templo de Amon-Ra – Karnak – Papiro Fechado

O Salão Uto

Uto era a deusa padroeira e protetora de todo o Baixo Egito e se associou a Nekhbet, descrito como um abutre branco, que mantinha o Egito unificado. Ela estava intimamente ligada aos faraós como uma divindade protetora. Ela foi associada, juntamente com outras deusas, com o ‘olho de Ra’. O Salão de Uto foi assim nomeado por causa do estilo usado nas colunas inspirado em imagens e símbolos da Deusa.

Construído por Tutmés I (reinou entre 1504-1492 a.C.), próximo ao santuário principal (entre o quarto e o quinto pilares). Ele foi usado antes da contrução do grande salão do templo de Amon-ra para o festival de coroação e jubileu.

O jubileu, ou festival “heb-sed” acontecia 30 anos após a ascenção do faraó e novamente a cada três anos. “Durante o festival, o rei percorreu uma corte sediada realizando feitos de força para demonstrar sua capacidade de continuar a governar o Egito”, escreve a pesquisadora Pat Remler em seu livro “Mitologia Egípcia, A a Z” (Chelsea House, 2010).

Hatshepsut

Hatshepsut era uma mulher faraó do Egito que reinou entre 1479 e 1458 a.C. Em Karnak ela restaurou o então santuário principal de Mut, a antiga grande deusa do Egito. O templo havia sido profanado e destruído por governantes estrangeiros durante a ocupação dos Hiscsos, nome pelo qual os egípcios conheciam os Cananeus ou Fenícios.

Obelisco de Hatshepsut - Templo de Amon-Ra em Karnak - Egito
Obelisco de Hatshepsut

Os obeliscos gêmeos que Hatshepsut mandou erigir na entrada do santuário eram os mais altos do mundo. Um deles partiu e tombou, mas o outro permanece de pé como o obelisco antigo mais alto da Terra. A Capela Vermelha de Karnak, também obra da Faraó, era um santuário no formato de barca e acredita-se que estivesse posicionada próximo ou entre os grandes obeliscos.

Ela ordenou a construção de mais dois obeliscos para comemorar seu décimo sexto ano como faraó; um deles foi abandonado durante a construção por ter-se quebrado em sua pedreira em Assuan, e é chamado de Obelisco inacabado. A título de curiosidade, se terminado, o Obelisco Inacabado teria medido cerca de 42 metros e pesaria cerca de 1.090 toneladas. Ele supera em quase um terço o tamanho de qualquer outro obelisco egípcio antigo.

Entre os que ficaram prontos e chegaram a ser colocados em Karnak, o mais conhecido é o que tarde seria chamado Obelisco Lateranense, por que como consequência da invasão romana, ele foi trazido para o Palácio de Latrão em Roma.

Tutmés III

Quando Tutmés III, o sucessor de Hatshepsut chegou ao trono, ele iniciou uma campanha de eliminação das imagens da faraó e de seu legado, tendo assim destruído parte de suas obras, inclusive o santuário no formato de barca em Karnak.

Tutmés, em contrapartida, ordenou a construção do Ahkmenu, o conjunto de pilares a leste do grande Templo. Bem como também criou um santuário que permitia que a população de Tebas fizesse suas súplicas diante de uma estátua do rei com Amun-Ra. Eventualmente o faraó construiu também um “lago sagrado” ao sul do santuário principal.

Lago SAgrado do Templo de Amon-Ra em Karnak - Egito
Lago Sagrado – Karnak

Ramsés III

Ramsés III (que reinou de 1186 a 1155 a.C) construiu um templo dedicado a Khonsu, filho de Amun-Ra e da deusa Mut. Seu templo foi dessa forma, construído entre os santuários de Amun-Ra e Mut. O templo mede, de acordo com fontes arqueológicas, 70 metros por 27 metros, e as colunas em seu salão possuem cerca de 7 metros de altura.

Templo de Khonsu - Karnak
Templo de Khonsu

Taharqa

Faraó Kushita Taharqa
Taharqa – Faraó Núbio

Taharga (reinou de 690 a 664 aC) foi um faraó da XXV Dinastia do Egito e qore (rei) do Reino de Kush (atual Sudão). Ele foi um dos “faraós kushitas, e assim, fazia parte de uma dinastia de governantes da oriundos da Núbia (atual Sudão) que controlou grande parte do Egito durante a XXV dinastia (de 744 a 656 a.C). Com o intuito de deixar sua marca, ele construiu uma obra sui generis no “lago sagrado” de Karnak: o “edifício do lago”, que era parcialmente subterrâneo.

“Este é um monumento enigmático e enigmático que não tem paralelos”, Segundo a egiptóloga Heather Blyth. “Foi dedicado a Re-Horakhte [uma combinação de dois deuses do céu], o que explicaria a quadra solar aberta acima do solo, enquanto as salas subterrâneas simbolizavam a passagem noturna do sol no submundo”. O edifício possuía ainda um “nilômetro”, usado para medir o nível da água do Nilo.

Artigo Relacionado  A Jornada de Prometeu: Explorando a Origem e o Significado do Nome Prometeu na Mitologia Grega

Nectanebo I

Pórtico Oeste do Templo de Amon-Ra em Karnak - Egito
Pórtico Oeste em Karnak

A última grande mudança estrutural do Grande Templo de Amon-Ra foi a adição um novo grande pórtico em Karnak, na entrada oeste (embora ele não tenha conseguido terminá-lo) e as enormes paredes do templo que cercam toda a edificação, ambas construídas por Nectanebo I (reinou entre 380 e 362 a.C) da Trigésima e última dinastia do antigo Egito.

Após Nectanebo, as dinastias subsequentes tiveram conquistadores estrangeiros instalados como governantes. Com efeito, o Egito seria dali em diante governado faraós persas, gregos ou governadores romanos.

Amon e o primitivo Templo de Karnak

O templo foi originalmente dedicado a Montu, um deus da guerra de Tebas e assim, havia um santuário dedicado a ele mesmo após a ascensão do culto a Amon. Á medida que o templo se desenvolveu, ele se adaptou à nova realidade política e religiosa de cada nova época, e nesse sentido, a o santuário de Montu foi vítima das circunstâncias.

O primeiro grande surto de crescimento do complexo de Karnak deu-se num contexto em que Amon torna-se o Deus supremo do panteão egípicio. Por conseguinte, as primeiras grandes novas edificações foram dedicadas a Amon, sua consorte Mut, a doadora da vida, e seu filho Khonsu, o Deus da lua. Essa Tríade de Tebas viria a ser a base da religiosidade egípcia por milênios e eles eram os deuses mais populares até que com a decadência do Egito antigo, o culto de Osíris com Ísis e Hórus viesse a compor uma nova tríade e dominasse a religião no Nilo. Posteriormente à conquista egípcia pelos romanos, o Culto de Ísis, progressivamente tornou-se o mais popular na história egípcia.

Amon-Ra, Deus supremo do Egito

Amon era uma divindade menor em Tebas. Progressivamente, as características de dois deuses mais velhos, Atum e Ra (deus criador e deus do sol) combinam-se em Amon, fazendo dele o rei supremo dos deuses e criador e preservador da vida, conhecido a partir de então como Amon-Ra.

Essa divindade ganhou destaque após o governante tebano Mentuhotep II, ter unificado o Egito em c. 2040 a.C. Mentuhotep II trouxe profundas inovações ao transferir a capital do Império de Heracleópolis para Tebas, e introduzir costumes e divindades tebanas para o resto do Egito.

Mentuhotep significa “Montu está satisfeito”. Apesar do nome do novo faraó ser uma homenagem a Montu, o Deus original do Templo de Karnak, Amon e Osiris serão os Deuses mais beneficiados pela ascensão do faraó tebano ao poder.

Mentuhotep II em um relevo de seu templo mortuário em Deir el-Bahari

Mentuhotep II em um relevo de seu templo mortuário em Deir el-Bahari

O templo mortuário de Mentuhotep é o primeiro onde o rei não é apenas o destinatário das ofertas, mas realiza cerimônias para as divindades, principalmente Amon-Ra. Além disso, o templo de Mentuhotep identifica o rei com Osíris, outro deus tebano local que tem seu status transformado a partir da XI dinastia. A onipresente preocupação egípcia com avida após a morte e a estabilidade das colheitas explica tal identificação: Osíris era o é o deus da fertilidade, da agricultura, da vida após a morte, dos mortos, da ressurreição, da vida e vegetação.

A ênfase do templo nos aspectos osirianos do governante morto, deu origem a todo um conjunto de novas práticas funerárias e redefine a aparência de templos funerários dos faraós posteriores, assim como a nova importância atribuída a Amon.

Cena Noturna - Colunas do Templo de Amon-Ra em Karnak - Egito

Influência política do templo de Karnak no Egito

No auge do templo durante o Novo império, o número total de sacerdotes empregados em Karnak chegava a 80 mil, e os sumos sacerdotes possuíam tanto poder e recursos quanto o próprio faraó.

Os sacerdotes de Amon, dispunham de recursos e influência suficiente a ponto de controlar o governo tebano no período final do Novo Império, momento em que o domínio do país se dividiu entre eles em Tebas o faraó na cidade de Pi-Ramsés, no delta do Nilo (Baixo Egito).

Mehit, Ramses II e Amon-Ra, Ramses II e Anhur - Relevos em Karnak
Mehit, Ramses II e Amon-Ra, Ramses II e Anhur – Karnak

Certamente houve uma relação muito clara entre a ascensão da classe sacerdotal em Karnak e o enfraquecimento da posição do faraó. O declínio do Novo Império foi marcado pela oposição entre o clero e o faraó, embora dado o entrelaçamento entre religião e governo, um conflito aberto seria temerário para o faraó. O próprio faraó, entretanto, era parte da religião, cultuado como um Deus e associado a Hórus.

O preço cobrado pelo enfraquecimento do poder central foi alto para todo o Egito, ao passo que o próprio complexo do templo foi danificado nas invasões assíria (666 a.C) e persa (525 aC). Posteriormente as grandes reformas de Nectanebo I, recuperaram o templo, mas essas viriam a ser as últimas intervenções genuinamente egípcias no complexo. A partir de então, ele gradualmente perdeu todo o poder, até ser completamente abandonado.

Os Ptolomeus – Dinastia Macedônica

Alexandre O Grande
Alexandre O Grande

Após mais de um século de domínio pelos persas aquemênidas, o Egito conseguiu por fim libertar-se. As últimas dinastias egípcias independentes (XXVIII a XXX) nesse meio tempo mantiveram o poder e durante sessenta anos houve uma recuperação parcial do poderio egípcio. A reconquista persa em 343 a.C. contudo, pôs fim definitivamente à milenar civilização egípcia como povo livre.

Alexandre o Grande, da Macedônia logo após vencer o império persa, tomou o Egito em 332 a.C., iniciando o domínio macedônico. Alexandre estabeleceu a mais famosa de suas cerca de vinte cidades chamadas Alexandria na costa noroeste do Delta do Nilo, e em virtude de sua morte, em 323 a.C, seu reino foi dividido entre seus generais.

Ptolomeu assumiu o controle do Egito, primeiro como lugar-tenente de Alexandre, e depois como rei ou faraó, após a partição do império e a guerra civil entre os generais. Foi coroado rei em 305 a.C., e manteve Alexandria como sua capital. A dinastia ptolomaica governou o Egito para quase 300 anos, até a derrota em combate e morte de uma das rainhas mais conhecidas da história do Egito: Cleópatra VII.

Ptolomeu I (governou de 323 – 283 a.C) buscou mesclar as culturas grega e egípcia para obter a aceitação da população local. Embora tenha honrado os deuses antigos e empreendido obras de restauração por todo o país e assumido pessoalmente a religião e boa parte dos costumes dos egípcios, a dinastia dedicou a maior parte de sua atenção aos templos em Alexandria.

Serapis e Isis

A cidade era conhecida como uma obra magnífica de arquitetura e um caldo de culturas e produção artística. Muitos de seus elementos eram helenísticos, tais como os cemitérios a leste e oeste. Os templos principais da cidade, em contrapartida, eram o do culto real e o do deus maior do período, Serapis, uma divindade que combinava aspectos de Osíris, Apis e Ptah. A releitura helenística de Osíris manteve Ísis como consorte, ao passo que o culto dela floresceu imensamente no Egito e posteriormente até em Roma.

Os Ptolomeus eram não só representados como governantes gregos, como pode ser visto em moedas, anéis e retratos de pedra típicos do período, como também há muitos relevos e estátuas deles no estilo egípcio. O estilo emulado por essas obras era muito parecido com o dos retratos da XXX dinastia, a última dinastia egípcia nativa. Estátuas dos ptolomaicas estavam presentes em templos por todo o Egito. Cleópatra VII permaneceu firmemente na memória dos egípcios e estátuas dela foram adoradas até o século IV d.C, mais de 400 anos após sua morte.

Artigo Relacionado  10 informações que podem te surpreender hoje

Pouca atenção foi dedicada a Karnak durante esse período macedônico. Ptolomeu IV (221 a 204 a.C), chegou a construir no complexo um hipogeu (câmara funerária subterrânea), dedicado ao deus Osíris. Amon-Ra foi progressivamente deixado de lado, sendo que após Ptolomeu IV, nenhum outro governante desse período fez acréscimos ao templo de Karnak.

A dinastia terminou com o suicídio de Cleópatra VII (69 – 30 a.C), após a derrota de seus exércitos e a invasão de Alexandria por Otaviano. Ptolomeu XV (Cesarion, filho de Cleópatra com Júlio Cesar) sobreviveu à mãe por 18 dias, mas ele nunca exerceu qualquer poder efetivo sobre o Egito.

Domínio romano do Egito

Mosaico em Alexandria - Museu Nacional de Alexandria
Museu Nacional de Alexandria

Após a transformação do reino egípcio em província, os romanos também usaram Alexandria como sede principal de poder. Ignoraram Tebas e pouco se interessaram por seu templo. Tebas foi saqueada no século I d.C após confronto com um exército núbio, que invadiu a província pelo sul. O resultado pôs a cidade em ruínas, e a partir de então, o abandono de Karnak e do templo de Amon-Ra tornou-se quase completo.

Quando no século IV d.C, o imperador Constâncio II (337 a 361) determinou o fechamento de todos os templos pagãos do império, o complexo de Karnak não chegou a ser afetado, visto que Tebas já era uma cidade praticamente desabitada e em ruínas. O Templo de Amon-ra chegou a ser usado brevemente como igreja por cristãos coptas no século IV d.C, mas estes logo o abandonaram. Subsequentemente, a cidade e o complexo do templo foram totalmente tomados pela areia do deserto.

Reflexões sobre a influência do Templo de Karnak na cultura egípcia

O complexo milenar existiu possibilitando a sociedade egípcia cimentar sua unidade. Quando o templo mesclava religião e poder político, a civilização egípcia pôde florescer em torno de um valor que anacronicamente poderíamos chamar de nacional. O poder e a religião foram reinterpretados para representar a nova configuração da sociedade egípcia num contexto em que o templo era a manifestação física dessa unidade entre o faraó, o povo e a divindade.

No momento em que a disputa de poder entre a classe sacerdotal e o faraó cindiram o Egito, toda a estrutura social enfraqueceu. Como resultado dessa cisão, a capacidade da civilização egípcia em permanecer de pé e resistir a invasões estrangeiras foi comprometida de forma definitiva.

A força do elemento cultural

Antes das ocupações persa e macedônica, o Egito já havia sido ocupado, mas a força da cultura egípcia resistiu a qualquer tentativa de assimilação, e a independência invariavelmente tornou a ser conquistada. O que aconteceu após a XXX dinastia foi uma incapacidade da cultura egípcia em se organizar para resistir ao estrangeiro. Essa incapacidade deriva da falta de senso de unidade interna, visto que a religião e a política perderam a legitimidade diante do povo. Desse modo, quando os egípcios olhavam para sua classe dominante ele não conseguiam mais identificá-los com os seus antepassados que construíram o Templo de Amon-ra, as Grandes Pirâmides do vale de Gizé, Abu Simbel e tantas outras maravilhas.

O próprio povo egípcio igualmente não se reconhecia mais como os construtores de tais obras. Processo similar aconteceu em diversas outras civilizações antigas. Durante a Idade Média grega, os habitantes da região que ainda viviam entre as ruinas das poderosas muralhas da época descrita por Homero na Ilíada, nem sequer sabiam quem teria construído obras tão grandiosas. Para eles a grande muralha de Micenas era incompreensível do ponto de vista tecnológico, e dessa forma só poderia ter sido erigida por Ciclopes. O próprio Strategikon de Kekaumenos, escrito no Império Bizantino, retrata um momento histórico similar.

Em outras palavras, quando as bases da estrutura cultural e política de um povo estão abaladas, a cultura perde a capacidade de continuar tornando um povo aquilo que ele sempre foi. Assim, a decadência do Templo de Amon-Ra é tanto causa quanto consequência das turbulências ocorridas ao final da última dinastia nativa, e mostra como são graves as consequências das divisões insolúveis dentro de uma sociedade.

Como chegar em Karnak?

Ao visitar Karnak, um explorador conhecerá o coração que impulsionou a cultura egípcia por dois milênios.

Dicas de Viagem:

Ir por conta própria ou agência?

Segundo a Agência Civitatis Tours: “Por segurança, preço e comodidade, reservar uma viagem organizada por agência é a primeira opção. O preço de um voo regular para o Egito supera em muito o de uma viagem com intermediário e tudo incluído.”

Qual é a melhor maneira de conhecer o Templo de Karnak?

A melhor forma de descobrir o Templo de Karnak é com um guia especializado, que lhe mostrará os pontos mais recônditos e interessantes, enquanto conta as histórias mais peculiares e surpreendentes. Você pode reservar a visita a Karnak combinada com a do Templo de Luxor neste link:

Visita guiada ao Templo de Luxor e ao Templo de Karnak

Espetáculo de luz e som

No Templo de Karnak, acontece um dos espetáculos de luz e som mais famosos do Egito. O espetáculo consiste em percorrer o templo à medida que se narra uma história e o templo vai sendo iluminado em certas partes. É recomendável dominar o inglês para aproveitar a visita ao máximo. Você pode reservar o espetáculo através deste link:

Cruzeiro pelo Nilo

Veja com a Memphis Tours, é a melhor opção segundo a Gaia Vani. Há pacotes mais simples de 4 dias por U$400, até pacotes mais elaborados de 8 noites em um navio de luxo por U$2000.

Cruzeiro pelo Rio Nilo - Navio Fluvial
Cruzeiro pelo Rio Nilo: Radamis II – Foto: Gaia Vani
Cruzeiro pelo Rio Nilo - Cruzeiro de Luxo
Cruzeiro de Luxo Oberoi Zahra Foto: Memphis Tours
Pôr do Sol - Rio Nilo
Pôr do Sol hipnotizante no Rio Nilo Foto: Camila Castanheira
Cruzeiro pelo Rio Nilo - Suíte
Suíte de Cruzeiro no Rio Nilo –  Foto: Camila Castanheira

Segundo a Camila Castanheira do blog “Acordei, quero viajar”, dependendo do navio, há até apresentações de dança do ventre e festa a fantasia.

O que tem por perto:

Templo de Luxor (2.7 km)
Luxor (2.7 km)
Templo de Hatshepsut (5.6 km)
Vale dos Reis (6.2 km)
Vale das Rainhas (6.4 km)


Bibliografia

http://www.ancient-wisdom.com/egyptkarnak.htm

https://books.google.com.br/books?id=VJpcAGB13iMC&printsec=frontcover&source=gbs_ge_summary_r&cad=0

https://www.britannica.com/place/Karnak

https://discoveringegypt.com/karnak-temple/

https://www.livescience.com/25184-karnak-temple.html

https://www.pbs.org/wgbh/nova/egypt/dispatches/990316.html

BLYTH, Heather. Karnak: Evolução de um Templo”, Routledge, Londres, 2006

Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/sala-hipostila/20301 [consultado em 06-07-2020]

PULS, Maurício. Arquitetura e Filosofia, São Paulo: Anablume, 2006

WEIGALL, Arthur. A History of the Pharaohs Volume 2: The Twelfth to the Eighteenth Dynasties. Cambridge University Press, Cambridge, 2016

Be First to Comment

    Leave a Reply

    Your email address will not be published. Required fields are marked *