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Alteridade e Colisão Empática

Alteridade e colisão empática são termos complementares, relacionados a empatia, respeito, integração, cidadania e convivência. Nos dias de hoje assumem importância fundamental.

Alteridade e colisão empática
Alteridade e a empatia pelo outro

Alteridade é um termo filosófico e antropológico que indica “o que se relaciona a outrem”, isto é, o “outro” (latim alter). A alteridade implica a capacidade de distinguir entre o eu e o não-eu e, consequentemente, assumir a existência de um ponto de vista alternativo. Ou colocar-se no lugar do outro, numa tentativa e enxergar a partir de seus olhos.

O uso mais comum do conceito de alteridade está justamente na Antropologia, por ser uma ciência que lida constantemente com “o outro”. Como um antropólogo pode efetivamente compreender um ritual feito por uma sociedade completamente diferente de tudo o que ele conhece, com outros pressupostos religiosos, éticos, morais e racionais?

É preciso estar despido dos meus moralismos, da minha consciência do que significa ser normal e disposição para participar ou analisar um evento, atividade ou conduta cultural com base naquilo que ele significa para o “outro”. A natureza dessa relação entre mim e o “outro” implica sempre uma relação de poder, que pode ser compreendida em vários níveis, desde a ação social, envolvendo apenas certos grupos, até o poder político e Estatal.

Discussão conceitual

Para Cornelius Castoriadis (Instituição imaginária da sociedade, 1975; Instituição imaginária da sociedade, 1997) alteridade / alteridade radical (francês: altérité radicale) denota o elemento da criatividade na história: “Pois o que é dado na e através da história é não a sequência determinada do determinado, mas o surgimento de alteridade radical, criação imanente, novidade não trivial.”

Para Jean Baudrillard (Figures de l’alterité, 1994; Radical Alterity, 2008), a alteridade é um elemento precioso e transcendente e sua perda empobreceria seriamente uma cultura mundial de igualdade crescente e “narcisismo cultural insolente e arrogante”.

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Segundo a indiana Gayatri Chakravorty Spivak, é imperativo que o historiador descubra as histórias e os comportamentos históricos inerentes aos momentos históricos com os quais ele trabalha, com o objetivo de entender  como as narrativas históricas são negociadas e o conceito de história é socialmente construído, “é preciso levar em conta a perigosa fragilidade e tenacidade dessas metáforas conceituais”.

Jeffery Nealon, em Alterity Politics: Ethics and Performative Subjectivity, argumenta que “a ética é constituída como uma resposta afirmativa inexorável a diferentes identidades, não pela incapacidade de entender ou totalizar a outra”.

Joshua Wexler escreve: “Dadas as várias formulações teóricas apresentadas aqui, a mediação da alteridade ou alteridade no mundo fornece um espaço para pensar sobre as complexidades do eu e do outro e a formação da identidade”.

Jadranka Skorin-Kapov, em “A estética do desejo e da surpresa: Fenomenologia e especulação”, relaciona alteridade a novidade e surpresa. O significado estar face a face com a alteridade não está em sua novidade (ou novidade banal), a novidade é significativa porque revela uma postura diferente diante do novo, porque permite a experiência da alteridade.

O estudo de 2018 argumenta que a experiência da alteridade nas atividades cotidianas é de qualidade diferente da experiência da alteridade ao participar de rituais:

“A realidade transcendente é acessível durante os rituais. Serve como fonte de potencialidades. Essas potencialidades são atualizadas no ritual e emaranhadas. com a existência cotidiana das pessoas. Além disso, argumentamos que participar do ritual permite que o pesquisador entre na alteridade da alteridade e se aproxime das origens das ontologias.”

Atualidade e pertinência da discussão sobre Alteridade e colisão empática

O conceito de alteridade também está sendo usado em discussões típicas do nosso cotidiano, num contexto em que vemos nossa sociedade cada vez mais marcada pela diferença do que pelo sentido de unidade.

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Levando em conta tudo isso, o vídeo da Carolina Nalon (postado na acima) mostra um pouco do choque de identidade racial que estamos vivendo e nossa dificuldade de encontrar empatia na relação com o outro pela postura orientada à alteridade.

O que ela chama de colisão empática, é justamente uma manifestação da falta de predisposição à alteridade.

Alteridade e colisão empática no cotidiano

Alteridade e colisão empática
Alteridade e colisão empática

Vamos trazer isso para o nosso cotidiano: Na sua casa, quem lava a louça e varre o chão? Você acha que a família mais feliz é aquela na qual essas atividades são compartilhadas, já que existe empatia e companheirismo? Ou a felicidade tende a estar mais presente naquelas famílias em que de uma pessoa está destinada a fazer isso, já que é seu papel? O fato de você ser homem ou mulher influenciaria na sua resposta?

Vejam que existem vários “outros” diferentes dentro de uma sociedade. Uma mulher que reclama das tarefas domésticas, e de ter que fazer isso só porque é mulher, pode perfeitamente ser racista e desprezar negros ou indígenas, pois para ela eles são “o outro”. Ela não entende que vive a mesma relação em casa.

Em nossa vida cotidiana, alteridade poderia ser entendida como uma postura ética. Ela seria fruto de um sentimento contrário à lógica hegemônica, de forma que a nossa experiência não deveria nos levar a ignorar os problemas ou a experiência do outro. Isso é especialmente importante quando comparamos grupos hegemônico ou mais fortes, com os mais fracos. É fundamental construir uma alteridade com a proposta de se colocar no lugar dos mais fracos.

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